À César o que é dele

... E sou surpreendido ao abrir outro jornal que circula em Aparecida.
Estava lá, publicado em papel nobre, um texto que narrava uma parte inesquecível da história vitoriosa do Aparecida EC, o famoso “Furacão do Vale”.
Junto do texto, ilustrava a página uma foto do esquadrão aparecidense, destacando a imagem do saudoso artilheiro Márcio Heleno. O assunto me interessou...
E começo a ler a crônica que era assinada por um autor desconhecido. O nome e o apelido vinham acima do texto. Mas eu não sabia quem era.
Logo no início percebi que ao menos o enredo da prosa era conhecido.
O texto parecia tão real, tão enxuto e bem escrito que minhas emoções vieram à tona. Era como seu eu tivesse vivido aquela história.
A narrativa esplêndida exalava verdade em suas frases. Uma fidelidade canina nas palavras em sintonia com a verdade das minhas lembranças.
Fui viajando no tempo. Entrando na dimensão da minha particular saudade.
O autor do texto definia até mesmo minúcias que eu nem me lembrava mais: a explosão da torcida, o tempo de gandula, os amendoins comidos encontrados no chão da arquibancada...
Era eu quem estava ali, embrenhado naquela reminiscência.
Quase no final do texto, uma linha do referido me chamou a atenção:
“... Quantos gols o gordinho Márcio Heleno foi capaz de inventar na medida do impossível”...
Foi então que percebi, o texto em questão era de minha autoria! Algumas mudanças em algumas frases tentavam maquiar minha história.
Percebi que alguns, na lúdica falta de experiência, pecam na hora de traduzir em palavras a sua emoção. Se traem na facilidade do “copie e cole”.
O texto de minha autoria republicado com algumas modificações e sendo assinado por outra pessoa, foi publicado no Jornal Tranca e Gamela na edição de 30 de maio de 2007 com o título “O bairrismo provincianas de cada dia” e depois disponibilizado no meu Blog “Memórias de Uma Província” desde 2010 com o título “Saudades do Furacão do Vale”.
Depois de 11 anos como cronista e 5 anos como jornalista, dois livros publicados e com textos impressos em inúmeros jornais da região, (inclusive aquele de papel nobre) quero deixar meu protesto diante desta banalização literária. Antes de ganhar os aplausos e curtidas numa rede social é preciso a hombridade em divulgar a fonte onde se pesquisa para depois se espojar na comodidade de copiar e colar. Sem assinatura que não consiga se amparar na certeza, nenhuma história vale.
Somos formadores de opinião e temos que ter um mínimo de responsabilidade no que escrevemos. Simples, sem ter muita ambição ou posses, o que me dá mais prazer é a honra em ser cronista do Jornal Tranca e Gamela e do Jornal O Lince com livre e máxima expressão de pensamento, que nada é sem essa tal responsabilidade. Também não tenho o propósito de uma retratação (que na verdade nada vale). Só fico feliz em saber o quanto tem importância a minha nobre literatura e minha vasta memória a ponto despertar a vontade de posse de outros.
Mas, pior que se apoderar e plagiar a escrita alheia sem dar crédito ao verdadeiro autor é tentar “surrupiar” suas memórias e lembranças.
Vivo num mundaréu de lembranças e memórias. Palavras fogem pelo ladrão a toda instante. Mais que o cronista, mais que o escritor e jornalista, o saudosista inveterado Lúcio Mauro estará sempre atento.


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