Nos passos da eternidade

Já faz algum tempo que a onda é caminhar. Caminhar, caminhar. Daqui pra lá, de lá pra cá...
Um vai-e-vem constante em busca da saúde, do físico perfeito.
Todo mundo calçando o par de tênis, o moletom. Mulheres amarrando camisas no bumbum aguçando a curiosidade da rapaziada.
Na chuva, no sol, de dia, de noite. Nas tardes enfim... Caminhar, caminhar, caminhar...
Num tempo muito remoto, eu aderi esta onda de caminhar impulsionado pela minha namorada (hoje esposa) que vinha lá do Portal das Colinas, onde trabalhava como babá, para me encontrar ali por perto da garagem da Pássaro Marrom. Eu todo esbaforido de cansaço vindo lá da Santa Rita e ela completamente bela a quilômetros de disposição de mim.
Certa vez, ao passar em frente ao Bar do Zé Maria, um amigo meu que ali estava tomando sua cerveja diária e fumando seu cigarrinho, partiu pra desforra ao me ver passar:
-Meu querido, porque tanta pressa? Deixa de ser bobo... Caminhar pra quê????
Na verdade, quem estava com pressa era ele. Com pressa de “subir ao andar de cima”.
Muitos anos já passados, eu morri. Tinha meus 85 anos bem vividos. Chegando ao outro plano, dei de cara com esse meu amigo que aparentava estar bem acabado. Um “caco”, como diz minha mãe.
Mesmo velho, pude perceber que eu estava muito mais conservado que ele que há décadas já estava por ali. Pensei comigo: “Agora quem vai à desforra com ele sou eu”...
Mas me lembrei subitamente daquilo que ele me disse uma vez em frente ao Bar do Zé Maria: “Porque tanta pressa?”...
Ele, meio sem jeito, apenas me olhou.
Como eu, ele sabia que teríamos uma eternidade pela frente pra ir a qualquer desforra.

Sem pressa...

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