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Mostrando postagens de agosto, 2011

Uma mulher de fibra.

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Eu estava trabalhando em Guaratinguetá havia apenas dois meses. Não conhecia direito as pessoas com quem iria me relacionar, já que, por ser um recepcionista, havia de ter a destreza de conhecer e entender o mais rápido possível os muitos personagens que iria encontrar. Ela vinha sempre radiante. Rosto encoberto pela forte maquiagem, cabelo espatifado, roupas que não condiziam com sua idade e de tecidos onde a estampa de “oncinha” predominava. Tinha a cútis queimada de sol, fruto da sua labuta que eu iria descobrir posteriormente qual era. Falava sem travas na língua e num tom mais alto que o normal. Um ser no mínimo exótico. Da primeira vez que ela chegou até mim, veio perguntando se “o presidente” havia deixado o dinheiro dela comigo. Eu questionei a suposta divida pensando sarcasticamente como o nosso presidente tinha coragem. Ela na verdade nem me deixou falar direito e me interrompendo disse: “É que eu limpo o túmulo da família dele aqui no cemitério em frente”... Depois

As Bodas de Prata da Barbearia do Niquinho.

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É lá no Salão Popular, na Barbearia do Niquinho, que os assuntos se afloram. Assuntos variados que, automaticamente, são engolidos pelas mais tradicionais e predominantes das conversas: o futebol e a política. Mas a Barbearia do Niquinho não é somente isso. É um lugar de valor histórico, onde o cotidiano se desenha no sentido de eternizar a historia do lugar, cravado na Rua Santa Rita, bem em frente ao cemitério velho. Hoje a barbearia é ponto de referência até para se fechar um negócio tamanho o fluxo de pessoas que por lá passar ou ficam. Panfletos de propaganda, jornais locais, revistas, avisos de compra e venda. É no Salão Popular que a gente encontra e reencontra a informação e a própria literatura urbana, seja por puro entretenimento ou para se concluir um fato, uma idéia ou uma revolta. Chamar de “boa” a música que é ouvida por lá é uma redundância simplória. São centenas de CDs que incorporam a preferência alheia sem forçar os ouvidos, impondo gêneros. Hoje, na era do

Repercussão da obra "Minúcias Poéticas" pelos quatro cantos do mundo.

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Extinta.

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Aquela noite mal dormida já era um resquício da relação conturbada que viviam. Ela ficou quase a noite toda revirando ele de um lado para outro para ver se parava de roncar. Por conta disso ele acordou esquisito. Uma dor de cabeça insistente que logo naquela hora da manhã ia depositando em seu pensamento que o dia ia ser difícil. Era costume levar o celular para o banho para escutar as primeiras “baboseiras” jornalísticas do dia no rádio e também para não perder a hora. A primeira manchete foi categórica e lhe chamou a atenção: “as mulheres iriam se extinguir do planeta daqui a 800 anos segundo um estudo de uma universidade americana”. Aquilo em sua cabeça cheia de xampu caiu como uma bomba. Afinal, ele não estava agüentando mais sua esposa. Sentia que seu amor, aquele amor de antes, se transformara em ódio. Mesmo porque, um vizinho lhe chamara a atenção sobre o fato de sua mulher estar se encontrando as escondidas com um cara lá do bairro. Ela estava desgastada com a relação.

O sorriso da sereia.

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O Rio Paraíba naquele tempo não sofria escassez de peixes, nem tão pouco detinha o esgoto de muitas cidades em seu curso. Tinha uma água quase cristalina. As águas também detinham muitas lendas. Desde mitos criados pelos mais antigos como a “capivara encantada” e até um “dourado” que o saudoso pescador Agapito da Ponte Alta jurava que pulava o quintal das casas ribeirinhas e comia suas galinhas toda noite. Virou lenda o Agapito e suas histórias de pescador. Muito antes disso, ele contava que seu tataravô descrevia com total fidelidade a história de uma sereia que vivia nas águas do Paraíba. Encantando os pescadores com sua beleza de mulher, muitos deles desapareciam nas águas sem deixar rastro algum. Para espanto de todos, era o sorriso da sereia que encantava os homens pescadores que depois pulavam rio adentro pra nunca mais voltar. O tataravô do saudoso Agapito teria sido um sobrevivente desta magia pelo simples fato da sereia nunca ter lhe sorrido. Dizia com todas as letras

A lista.

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Fotografia tirada na década de 50 no portão lateral da Basílica Velha. Click na foto e veja em destaque, Titica, Brotinho e João de Souza, os únicos remanescentes desta legião de retratistas. ..................................................................................... Um frio cortante deflagrava a manhã na Rua Santa Rita. Dois senhores distintos, ligados apenas pelo passado, onde ganharam a vida como retratistas na Praça NS Aparecida, começaram uma dileta discussão. Um deles acusava o outro sobre “uma lista” que emprestara sem que fosse devolvida. Aguçada a minha curiosidade, fui perguntar ao acusado de tomar a lista de arroubo sobre “o que” discutiam ferrenhamente logo cedo. “Eu acho que seu pai está nesta lista”, me respondeu. “Quanto tempo faz que ele se foi?” me indagou. “Já faz doze anos”... “O Toninho, vira e mexe quer que eu devolva a lista pra ele acrescentar os nomes dos que faltam. Mas, não é por maldade não. É que eu esqueço mesmo de devolver e ele fica bravo comigo

Porque certas coisas ficam...

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A vida sempre nos proporciona momentos de surpresa. Agradáveis ou não, acompanham o ritmo da gente recheando a extrema procura de fatos que podem virar estórias, contos e artigos que escrevem sutilmente parte de um cotidiano rico, escondido pelo tempo ou pela ineficácia da nossa curiosidade. A fim de fazer uma “limpeza” na estante da sala da minha casa, comecei a separar papéis que nada valiam e revistas velhas que já tinham perdido seus valores de entretenimento tendo agora somente o valor confortável para o repouso e alimento de baratas e traças que se escondem da gente nas frestas do dia. Entre tanta coisa “inútil” uma revista me chamou a atenção. Ela já circulava em casa há muito tempo e eu nunca tinha me detido em suas páginas para conhecer seu conteúdo. Não sei por que transmitia uma coisa de que “eu não poderia jogá-la fora” como muitas outras. Sem dar muita importância àquele “oculto instinto”, separei-a para depois folhear. A pequena parcela de curiosidade que me detinha era o

Atraso.

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Quinto dia útil. Finalmente depois de um mês, o pagamento saiu. Colocou seu cartão de banco na carteira e a enfiou no bolso. Apesar de todo aparato de segurança espalhado pela cidade, não era bom facilitar, visto que, um mês antes, uma colega de trabalho fora surpeendida por dois moleques que levaram todo pagamento do mês num assalto. Depois de digitar a senha, sacou a grana e enfiou na carteira, saindo apressado da agência. Seu salário estava praticamente todo com o destino certo. Nunca atrasou nenhuma prestação de seus carnês. Já no ponto final do ônibus da rodoviária, o vazio entre um itinerário e outro o colocou apreensivo. Ele havia se atrasado e perdera seu ônibus. Todo aquele que passava lhe parecia um “suspeito”. Foi um daqueles carros alternativos que lhe proporcionou sua fuga daquela apreensão. Pagou a passagem e seguiu viagem se sentindo um pouco mais seguro. No ponto seguinte, alguém deu sinal para que o alternativo parasse. Entraram dois rapazes pedindo para que o motorist