Desmoronando ao pé do rádio


(Histórias de um time centenário)

Para deleite dos menos felizes, a construção do Centenário do Corínthians também teve seus momentos amargos.
Vigílias agarradas ao rádio de pilhas esperando triunfos momoráveis que não aconteciam. Vésperas sofridas pela angústia da ceteza que não se concretizava. Macumbas nas esquinas, botecos iluminados com velas. Vinte e três anos de espera com bêbados tropeçando nas derrotas.
Esses episódios que rasavam os olhos d’água e cortavam as almas alvinegras talvez sejam para os corinthianos os mais recheados de orgulho. Era assim que inexplicavelmente a torcida crescia sem ninguém entender a razão, alinhavando em silêncio e humilhada a esperança de uma conquista.
Na época em que o “time do povo” sequer conseguia empatar com o lendário Santos de Pelé, houve um jogo contra o time da baixada santista que o coringão conseguiu “enfiar quatro” no peixe.
Ganhar do Santos nos tempos do tabu equivalia a vencer o campeonato. E um corinthiano amigo nosso naquela noite nem quis saber: enrolou-se numa bandeira e saiu fazendo a maior arruaça pela Rua Santa Rita antes mesmo do jogo terminar, festejando, depois de tanto tempo, a inevitável vitória corinthiana sobre “os lambaris”.
Ao chegar no Bar do Nanias, todo eufórico, ele foi logo pedindo uma Antarctica. O Nanias, vendo a cena do empolgado corinthiano perguntou:
-Tá comemorando o que hoje meu amigo?
Ele respondeu:
-Não é fácil “enfiar” quatro no Santos não Nanias. Tem que comemorar...
O Nanias, não querendo cortar o embalo do corinthiano, disfarçadamente mudou a estação do rádio, onde, aumentando o volume, fez com que o farrista da noite desmoronasse quando o locutor esportivo começou a dar, entre outros, os resultados da rodada da noite:
“Ferroviária 1, São Bento de Sorocaba 1; XV de Jaú 3, Bandeirante de Birigui zero; Ponte Preta 2, Portuguesa 1; E o clássico no Pacaembu, onde o time do Santos venceu de virada o Corinthians pelo placar de 6 a 4, com três gols do Péle”...

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