O óbvio da situação.


Meu trabalho na recepção do Pronto Socorro da Santa Casa é bem simples: elaborar um prontuário das pessoas que vem se consultar.
Ás vezes, pessoas chegam desacordadas e sem nenhum acompanhante, o que me obriga apenas a colocar o horário de entrada, a data e as vestimentas que possam identificar o paciente.
Numa certa madrugada sou surpreendido pela porta automática do lugar que deu vazão à uma senhora que chorava copiosamente e de soluçar. Pela expressão de seu rosto parecia estar sentindo muita dor, o que me fez prontamente coloca-la pra dentro.
Ao indaga-la perguntando seu nome, ela chorava ainda mais. Conseguiu dizer apenas que “seu marido estava vindo aí”. O senhor todo afoito, depois de estacionar seu carro longe da área de emergência, me disse suspirando fundo:
“Ela caiu deitada dentro de casa quando se levantou para ir ao banheiro. Ela também já tem cadastro em seu computador amigo. O nome dela é Maria das Dores da Costa”. Numa troca de olhares rapidamente infalível, pareceu que nós dois pensamos a mesma coisa.
Nunca um nome caiu tão bem numa situação de emergência nas dependências do pronto Socorro de Aparecida. Era só imaginar um pouco mais e o prontuário estaria feito sem tantas perguntas.

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