A mística “Lambe-lambe”.


Na medida em que o tempo vai passando, a arte da fotografia, atropelada por uma brutal tecnologia, vai se descaracterizando e deixando de exaltar a perspicácia dos fotógrafos de antes.
Munidos de uma conduta quase transcendental, a figura dos “lambe-lambe” descreveu por aqui uma pagina histórica, onde, numa forma mágica, ajudaram a expandir a devoção a Nossa Senhora Aparecida pelo mundo afora.
Eles imortalizavam momentos sublimes de fé dos romeiros, que aos pés da santa, clamavam por proteção ou oravam em forma de agradecimento, tornando-os parte integrante da paisagem e deixando de usar a matriz como simples cenário, montando e desmontando sorrisos e poses de acordo com a luminosidade de sua precisão.
Os profissionais dessa arte confeccionaram então instantes belos na memória dos peregrinos, virando uma espécie de “guardiões” da santa e uma lenda por toda a região.
Agiam como pessoas comuns, que como a arte, sucumbiram ao tempo, instalando-se na inquietude da saudade de quem viveu naquela época.
Mas, ainda hoje, um deles bravamente resiste.
O profissional que nunca trocou sua velha “tripé” por nenhuma tecnologia efêmera. Que se desdobra para preencher o presente de novos conhecimentos, driblando a falta de um filme especial que já não existe mais para continuar fotografando.
Nessa superação ele desafia conceitos e se torna unanimidade no assunto. Assim virou ao longo dos anos o centro de inúmeras reportagens em diversos jornais e revistas.
Seu “Toninho Minair” talvez seja ainda o único fotografo lambe-lambe em atividade no Brasil, seguindo uma linha perfeita em sintonia com o seu tempo.
Devido as fortes chuvas caídas em fevereiro na cidade, as encostas do centro velho, que dá fundos para a Rua Maestro Benedito Barreto, retratou talvez a paisagem mais lamentável de todo caos ocorrido. O escadão veio abaixo, arrastado pela força intensa das águas. A destruição do local ficou a alguns poucos metros do “quarto escuro” de revelação que o seu “Toninho Minair” usa para guardar sua lendária maquina “tripé”.
A velha “Lambe-lambe” então se salvou do desmoronamento e da sua destruição, ficando incrivelmente ilesa.
Poder? Proteção? Ninguém sabe exatamente.
A certeza é que, no desafio dos instantes, alguém ainda tenta remontar o sonho. Um sonho onde tempos atrás fotógrafos já eternizavam cada parcela desse imenso saudosismo, imortalizando essa arte que resiste ate hoje pelas mãos de um profissional que nunca se cansa de manter viva essa história.
Fosse eu um herdeiro da Kodak, daria um premio a ele pela forma tão incomum de incorporar esse oficio de preservar parte da memória de Aparecida feita em preto e branco.

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