Manchete de jornal.

Seu Alvarenga já tinha tido a infelicidade de ter sua mercearia assaltada quase uma dezena de vezes. Aconselhado por um policial aposentado que era seu freguês, comprou um revólver calibre 38.
Adolfo havia crescido por ali. Sua mãe também era freguesa da mercearia do Seu Alvarenga desde muito tempo. “Quantos litros de leite foram vendidos fiado para encher a barriga do meu moleque”... Dona Mariana sempre agradeceu Seu Alvarenga por isso num tempo onde ela estava desempregada e seu marido a abandonara ainda com seu filho na barriga. Tudo por causa de uma “serigaita” a qual o velho Claudionor se engraçou.
Dona Mariana desconhecia o que seu filho Adolfo fazia e com quem andava. Suas más companias o tinham levado a cometer alguns delitos somente pra saciar o vício da maconha. Mas ele também era bom de bola. Sua equipe, o “Sabão Esporte Clube” havia vencido o campeonato de futebol lá no terrão da comunidade e Adolfo até saiu na primeira capa de um jornal informativo do bairro erguendo o troféu de campeão. Virou manchete. Um de seus amigos conseguiu guardar um exemplar para que Adolfo levasse pra sua mãe ver. Ele colocou o jornalzinho no bolso cheio de orgulho e disse ao colega: “Ainda vou aparecer muito nessas páginas, você vai ver”...
No caminho, outros amigos de Adolfo chegaram todos eufóricos onde um deles ostentava um 32 cano curto adquirido com o patrão do bairro vizinho em troca de uns favores.
A febre era grande e Adolfo decidiu com mais um deles assaltar a merceraia do Senhor Alavarenga pra comprar algumas gramas de maconha e fumar com a galera. “O velho já não está enxergando direito por causa da Diabetes. Vai ser fácil tomar dinheiro do trouxa”.
Com um boné, Adolfo entrou no bar e formalizou o assalto apontando o 32 para o velho Alavarenga com as mão meio trêmulas. Mas o dono do estabelecimento foi mais rápido e sacou seu 38 da cintura desferindo dois tiros que pegou em cheio no moleque Adolfo.
Seu Alvarenga não estava enxergando direito mesmo. Atirou a esmo tomado pelo susto e nem foi capaz de reconhecer o filho de Dona Mariana.
Logo o local encheu de viaturas e policiais, assim como diversos curiosos tentando ver quem era o bandido morto.
Tentando achar alguma identificação, um PM tirou do bolso do baleado uma folha de jornal e cobriu seu rosto ensanguentado.
De longe, Dona Mariana que tinha ido buscar o pão da tarde, enxergou o tumulto.
Ao se aproximar viu apenas a foto do filho erguendo o troféu de campeão na semana anterior lá no campinho na primeira página do jornal que cobria o delinquente.
Orgulhosa, ela deixou a compra de lado e foi até a banca de revistas pra ver se conseguia um exemplar daquele quinzenal publicado...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O chifre

Os 90 anos do Cemitério Santa Rita em Aparecida

Americanização