Aprendendo a lição.


Em 1989, eu estudava na Escola Solon Pereira, aos pés do Morro do Cruzeiro.
Uma escola que sempre teve tradição em formar belas equipes no esporte, tanto no basquete, quanto no futebol de salão.
A regularidade dessas equipes recheou por lá uma sala com inúmeros troféus, registrando as conquistas.
Nesse ano eu fazia parte da equipe de futsal que iria disputar o campeonato “Escola contra Escola”.
Eu nunca fui bom de bola. Esforçado porém. Era o tipo do jogador que não sossegava enquanto não marcava um golzinho. Talvez por essa persistência é que eu fui convocado para fazer parte da “seleção da escola”, mesmo sabendo que seria reserva.
A busca pela tão sonhada medalha começou numa noite em que iríamos enfrentar o COTECA, na quadra do MAE.
Arquibancada lotada, um jogo super disputado onde o nosso goleiro André foi o nome do jogo, pegando tudo quanto era bola. Ganhamos por 1 a 0 no maior sufoco.
Na mesma semana, o professor Cabrita, que também era nosso treinador, arranjou um jogo treino no Seminário Santo Afonso contra o time da Escola Comendador Salgado. Foi um passeio. Vencemos de uns doze ou treze, nem lembro.
No decorrer do campeonato, pelos cruzamentos das chaves, teríamos que enfrentar na semifinal justamente a Escola Comendador Salgado, que havia se classificado “nas cascas”. Assim nosso time ia fugir do confronto contra o Américo Alves, até então tida como a melhor equipe dentre todas. Mais até que o lendário time do Pires do Rio.
A confiança era enorme em chegarmos à grande final. E não poderia ser diferente:
-Como perder para um time que semanas antes havia levado um “chocolate” da gente lá no Seminário?
Chegado o dia do “massacre” nossa equipe esbanjava otimismo. No banco de reservas eu só estava esperando a hora de entrar na quadra e “guardar” o meu. Isso seria quando a goleada já estivesse concretizada.
O apito do juiz foi o início da nossa inconsciente frustração...
O jogo terminou em 2 a 2, com uma grande atuação de um tal “Ratinho”, o camisa dez do time deles, que havia feito os dois gols e sobrava em quadra.
Mas do nosso lado, Miltinho, nosso melhor jogador, era a nossa grande esperança. Todo mundo sabia que ele era capaz de uma jogada mágica a qualquer momento pra tirar a gente daquele sufoco. Um craque nato.
Pedi para entrar, mas o Cabrita não ia arriscar em tirar um craque do time e colocar um perna-de-pau como eu que só tinha vontade.
Na prorrogação novo empate.
Na decisão por pênaltis, o Miltinho ainda era a “luz” no fim da quadra.
Só que foi justamente “ele” quem desperdiçou nossa última cobrança, jogando a bola no travessão e adiando o sonho de uma inédita medalha.
Desde aquela época, como hoje, no futebol, nem sempre vence o melhor.
Existe sempre alguma coisa invisível que leva os soberbos a meterem os pés pelas mãos.
E o duro daquela noite ainda foi ter que marchar a pé da Vila Mariana até a Rua 1º de Maio, onde, em certos momentos, para não desanimar, a gente entoava um trecho do hino da “nossa” escola que dizia: “... tua glória será ver teus filhos, das batalhas sair triunfante”...
Foi assim que seguimos em frente e que aprendemos mais uma lição.

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