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Mostrando postagens de maio, 2010

Protegendo os dias.

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Foi há muito tempo atrás, quando eu carregava marmita para meu pai na Editora Santuário. Numa sala anexa a guarita, ele raspava a marmita comendo o arroz e o feijão com fome de rei. Vez ou outra um ovo frito e um virado de cambuquira. Depois de satistfeito, ele me acompanhava até a esquina da “Rua Nova”. Ás vezes a gente parava um pouco no Seminário Santo Afonso e ficava sentado sob as sombras das árvores como se o mundo estivesse parado. Foi ali que ele me mostrou uma imagem, que do alto do portão de entrada, zelava pelo lugar. Um anjo dominando um dragão com uma espada na mão. Nos seus ensinamentos, papai me contou que era São Miguel Arcanjo, protetor nos caminhos que a gente percorria. Quando ele não podia me acompanhar, eu sempre pedia a proteção ao anjo São Miguel no caminho de volta pra casa. Ao passar em frente ao cemitério velho, eu sabia, ele também me mostrara, que a capela ali dentro era dedicada à São Miguel Arcanjo. Pouca gente sabe disso. Nas festas

Beijo na taça.

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Na várzea, o time do Sabão E.C. tinha conseguido chegar à decisão contra o time do Clube Atléctico Caixote. A grande final seria no sábado à tarde no campo do Lajotinha. Claudete era apaixonada pelo namorado Assis. Ele era o capitão do time do Sabão. Apaixonada e muito ciumenta. Nunca admitiu que ele desse nenhuma “escorregadela” por aí, aproveitando sua fama de craque entre as “Marias chuteiras” de plantão que se organizavam nas arquibancadas se esgoelando pelas pernas dos jogadores em campo. Claudete marcava o namorado Assis mais que os beques da várzea. Justamante na véspera daquele sábado decisivo, Claudete perdeu uma tia e teve que viajar as pressas para Botucatu para acompanhar o sepultamento da ente querida. Foi mas não antes de reservar aos ouvidos do craque milhões de recomendações dizendo que “se fosse preciso, que ele levasse até mesmo o celular pra dentro de campo” tamanha sua obstinação em vigiar Assis. Jogo truncado, valendo taça. O zero a zero persistiu até os minutos fi

Papo furado

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- O que você escreveria na lápide de sua sepultura amigo? -Meu nome é logico. Se não, como as mulheres iam me encontrar? -Eu sei disso sua besta. Estou falando de uma última frase. Um epitáfio. -Ah sim. Escreveria “aqui jaz um eu morto pela saudade de alguém”. -Nossa que coisa mais triste. Morrer já é triste e você vem com essa coisa móbida. Pensa numa coisa mais pra frente. -Algo futurista por exemplo? -é. -E existe coisa mais futurista que a morte? -Futurista não é bem o termo. Algo que possa fazer as pessoas pensarem um pouco quando lerem. Algo que tenha a ver com o que você foi quando vivo. Por exemplo, se você fosse músico poderia escrever assim “minha vida foi iluminada como SOL. Por FAvor, não tenham DÒ de mim. Interessante não achou? Viu como se encaixaram as notas musicais? -Que coisa de mal gosto. Sem nenhuma criatividade. Se ele tocasse saxofone você iria querer colocar “Aqui jazz”, não é ? e se fosse um jogador de futebol talvez você colocasse “ aos 49 minutos do segundo te

“Canonização”

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Certa vez, o meu grande amigo Manoel, que era motorista da ambulância do Pronto Socorro onde eu trabalhei, levou ao P.S. uma moça que havia sofrido um acidente com sua moto na Avenida Itaguaçú. Socorrida prontamente pela equipe de enfermagem, fui fazer sua ficha de atendimento e elaborar um boletim de ocorrência do fato. Ao indagar a moça sobre seu endereço ela me informou que era de Guaratinguetá e que morava no Bairro de São Manoel. No exato instante em que ela dizia “São Manoel”, o motorista da ambulância entrou de repente na sala de emergência e, se fazendo de galã, falou com a voz sedutora para a moça: -Eu não sou santo não meu anjo. Pode me chamar só de Manoel mesmo... A moça, com suas dores, na maca, nada entendeu. Eu também demorei alguns segundos tentando compreender de onde ele havia tirado que se tratava de uma “canonização”...

O centenário do maior poeta aparecidense.

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Foi tirando a poeira de um tempo que encontrei José Afonso de Freitas e pude impregnar-me de seus versos como um ateu que descobre um “deus” e se agarra á ele cheio de arrependimento temendo que o inferno da anti-poesia venha apoderar-se do seu sentido humano pouco habitado e da sua razão literária muitas vezes pouco usada. A poesia de “Seu” Freitas, breve e marcante mostrou-me em cada verso a maneira apurada de como Ele enraizava-se no seu cotidiano e se embrenhava em memórias como se tudo pudesse formar diante de seus olhos um só poema da vida toda de um homem que respondeu com extremo coração os apelos do mundo e de sua existência. Um poeta que acreditou sempre com o mesmo fervor na beleza da palavra elaborada com arte. E apoderado de uma liberdade absoluta, seus versos nunca fugiram a essência de sua própria natureza. Absorvido numa profundidade interior parecia escrever como tendo um legado, buscando a poesia que se revelava em coisas simples, sem muito se importar com postura lit

Explicando a arte.

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Numa das nossas últimas conversas, meu pai regressou no tempo e relembrou com saudade de quando foi fotógrafo “lambe-lambe” na Praça Nossa Senhora Aparecida. Essa sua definição e conhecimento da arte fotográfica virariam algo épico depois, quando começou a trabalhar na centenária Editora Santuário, local onde por quase trinta anos pôde ultrapassar seus limites e virar uma lenda entre os maiores fotógrafos do vale do Paraíba no século passado. Em 9 de abril de 2009 fez exatamente 39 anos que ele ingressou na Editora pelos olhos conhecedores do Pe. Clóvis Bovo, o grande “descobridor”, morando hoje em Goiás. Desde o modo mais rústico e arcaico de revelar o retrato nas famosas máquinas tripé e colori-las usando uma batata pra fixar a tinta no papel até quando se aposentou exercendo a função de encarregado da Fotomecânica e Fotocomposição na “gráfica” ele ilustrou com sabedoria simples seus passos dentro da história dessa arte. Da sua época de “Lambe-lambe” contou-me naquela quase derradeir

Um sambista no “Alto da Candonga”.

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Nunca ficou tão claro e talvez nunca fique a exata verdade de inúmeros fatos que aconte-ceram nos carnavais de antigamente em Aparecida. Com o decorrer do tempo, quase toda estória de carnaval acabou virando lenda e habita hoje as mentes mais ilustres e experientes daqui. A quem diga que o carnaval de Aparecida nunca emplacou devido ás imposições da Igreja, pois Aparecida, desde antes, sempre foi conhecida como a “capital da fé”. Não combinaria se arrastando pelas ruas daqui a maior manifestação profana popular que se conhece. Mesmo assim, em outras épocas, Aparecida teve suas escolas de samba que puderam marcar um tempo mais romântico e organizado. Hoje, diversos blocos carnava-lescos fazem a alegria do povo pelas ruas patrocinados principalmente por políticos e candidatos de plantão. Em 2008 isso vai ser uma festa. “Uma festa dentro da festa”. O bloco “Escama de Ouro” foi o primeiro bloco de rua criado por aqui. Logo, no ano seguinte, vieram a “Embaixada da Biafra”, do Bairro Santa R

Homens extintos

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Houve um tempo em que na cidade de Aparecida existiam pessoas com mais ideais a defender. Nesse tempo, a chamada esquerda ainda não estava no poder querendo endireitar o país. E dentro de um sonho democrático, essas pessoas investiam em suas propostas e marchavam rumo aos grandes centros do país tentando mudar o sistema. Nessa revolta se uniam aqui, como no restante do Brasil, as cabeças mais pensantes que contribuíam com suas ideologias na tentativa de uma reforma geral, tanto política quanto econômica. Essas grandes manifestações de outrora acabaram influenciando no lado cultural e até mesmo antropológico da sociedade para a consolidação da democracia no país. Essas pessoas, com o passar do tempo, foram perdendo suas verdadeiras essências políticas e suas razões ideológicas, fazendo o pensamento socialista dar espaço a uma série de vaidades pessoais, deixando em evidência a verdadeira personalidade de alguns. Toda luta dava então inicio ao revés de uma garantida estrutura partidária

O sorriso da marmita

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Papai tossiu dando aviso de que estava ali. Vinha como de costume examinar as janelas, uma a uma. Chovia muito naquela noite, mas estava tudo no seu devido lugar, o que dava certa tranqüilidade na casa, apesar dos relâmpagos e dos trovões que iluminavam assustado-ramente o velho cemitério em frente. Mamãe com sua inabalável fé já havia acendido uma vela benta para afastar chuva feia do céu. Já em minha cama, eu fugia atrás de sonhos impossíveis de criança. Sonhos que o desenhar de um novo dia talvez fosse capaz de realizar. O ranger da porta do quarto misturou-se com a voz de papai perguntando: - Tudo bem aí? E ele era assim, dificilmente saía do quarto sem contar algo, falar alguma coisa, lembrar uma estória, um alguém. Havia muitas estórias que saía dele que pareciam ter algo épico e que geralmente narrava o cotidiano da Praça Nossa Senhora Aparecida e dos fotógrafos “Lambe-lambe” que trabalhavam com ele por lá. Papai tornou-se fotógrafo de verdade mesmo bem depois. Antes ele coloria

A influência das palavras

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(Texto dedicado ao fotógrafo e amigo Jorge Bráz). Indo além do tempo, consigo entender que fotografar é reter ainda mais a magia dos instantes. A fotografia tem o poder de restituir, resgatar e revelar um processo histórico de incansável nobreza e fidelidade para simplesmente eternizar. E o que aproxima a fotografia da arte não é somente o que ela mostra, mas aquilo que quem fotografa vê. Em um dos seus textos, a professora Zilda Ribeiro relembrou nas paginas do Jornal Tranca e Gamela alguns apelidos dos fotógrafos “lambe-lambe” que fizeram história na Praça Nossa Senhora Aparecida. Tais como seus pseudônimos, eram pessoas simples, com uma pronúncia informal, capazes de criar até mesmo uma espécie de “dialeto” entre si. A expressão “frú”, por exemplo, era quando a fotografia ficava tremida ou fora de foco. “Velô” era quando se perdia uma chapa por ter entrado luz dentro da máquina. “Granulô”, fotografia que perdia a nitidez. Ficou uma “água”, quando a chapa não revelava. “Pé de galinha

Aprendendo a lição.

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Em 1989, eu estudava na Escola Solon Pereira, aos pés do Morro do Cruzeiro. Uma escola que sempre teve tradição em formar belas equipes no esporte, tanto no basquete, quanto no futebol de salão. A regularidade dessas equipes recheou por lá uma sala com inúmeros troféus, registrando as conquistas. Nesse ano eu fazia parte da equipe de futsal que iria disputar o campeonato “Escola contra Escola”. Eu nunca fui bom de bola. Esforçado porém. Era o tipo do jogador que não sossegava enquanto não marcava um golzinho. Talvez por essa persistência é que eu fui convocado para fazer parte da “seleção da escola”, mesmo sabendo que seria reserva. A busca pela tão sonhada medalha começou numa noite em que iríamos enfrentar o COTECA, na quadra do MAE. Arquibancada lotada, um jogo super disputado onde o nosso goleiro André foi o nome do jogo, pegando tudo quanto era bola. Ganhamos por 1 a 0 no maior sufoco. Na mesma semana, o professor Cabrita, que também era nosso treinador, arranjou u

“Paparazzi”.

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...A pacata cidade, até então, ficou por alguns dias envolvida num tremendo contingente de pessoas. Autoridades civis, militares e religiosas eram os que mais se encontravam pelas ruas agora iluminadas. Cardeais, bispos, padres, frades e freiras de diversas partes do Brasil e de toda América Latina. Números ultrapassados somente por câmeras e celulares com função fotográfica. Eram esperadas ainda mais de 500 mil pessoas, pois afinal, além de ser dia das mães, estava em visita na cidade o Papa Bento XVI, sucessor de São Pedro, expoente máximo da Igreja Católica no mundo. Expectativa destruída com a realidade amanhecida daquele domingo importante. Em meio a “tanta” gente, estava de passagem pela cidade, vindo do Rio de Janeiro, um jovem de classe média alta, portando uma máquina digital de última geração em busca de uma imagem histórica do Papa. Um carioca “esperto”, cheio de “marra” como quase todos os demais. A grande oportunidade para realizar este feito seria no sábado pela manhã, be

A mística “Lambe-lambe”.

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Na medida em que o tempo vai passando, a arte da fotografia, atropelada por uma brutal tecnologia, vai se descaracterizando e deixando de exaltar a perspicácia dos fotógrafos de antes. Munidos de uma conduta quase transcendental, a figura dos “lambe-lambe” descreveu por aqui uma pagina histórica, onde, numa forma mágica, ajudaram a expandir a devoção a Nossa Senhora Aparecida pelo mundo afora. Eles imortalizavam momentos sublimes de fé dos romeiros, que aos pés da santa, clamavam por proteção ou oravam em forma de agradecimento, tornando-os parte integrante da paisagem e deixando de usar a matriz como simples cenário, montando e desmontando sorrisos e poses de acordo com a luminosidade de sua precisão. Os profissionais dessa arte confeccionaram então instantes belos na memória dos peregrinos, virando uma espécie de “guardiões” da santa e uma lenda por toda a região. Agiam como pessoas comuns, que como a arte, sucumbiram ao tempo, instalando-se na inquietude da saudade de quem viveu naq

“Recanto Cesarina”.

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Verões inesquecíveis eram aqueles em que a gente passava nas “Pedrinhas”, se instalando no “Recanto Cesarina”. Uma casa de “veraneio” que meu tio Pedro Rafael e a tia Lola tinham naquele bairro de Guará. Cesarina era o nome da minha avó que meus tios resolveram homenagear depois que ela se foi. Lugar onde a gente passava o dia inteiro e vinha embora só quando o sol já estava se pondo, avermelhando o céu no desalinhado horizonte riscado pela Mantiqueira. Sempre me recordo com toda nitidez a imagem do meu tio Zé Dias comandando a criançada que ia buscando ao longo do ribeirão as pedras para ele assim formar uma espécie de represa, que logo viraria nossa piscina natural. Era um privilegio ter o ribeirão passando apressado bem nos fundos do quintal da casa. Sentada sob a sombra de uma goiabeira que ficava ás margens do ribeirão, minha avó, cabelos todos pretos, diferentes das avós do tempo, parecia tranqüila e feliz com a bagunça da “netaiada” pulando na água. Ia girando no dedo a aliança

O dia em que a Embaixada perdeu.

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Não foi exatamente na minha época, mas os carnavais de antigamente em Aparecida, contam os mais velhos, era uma disputa digna de documentário. O Escama de Ouro, Império Simão Miné, Dragões Imperiais e a Embaixada do Samba acabaram um dia, mas escreveram na história do carnaval um capítulo esplendoroso, culminando num dos maiores carnavais do Vale do Paraíba naqueles áureos tempos. E no carnaval é assim: nossas economias somem dos bolsos em pouco tempo, tamanha a “bebedeira” que a gente apronta pra ficar mais à vontade, esperando que as cinzas nos salvem depois. Num desses carnavais de “vacas magras”, meu amigo “corinthiano” Ângelo Reginaldo, um entusiasta apaixonado pelo carnaval em todas as suas manifestações, reuniu alguns funcionários da fábrica do seu Célio para “desfilar” pela Embaixada do Morro em Guaratinguetá. Além de poder “brincar” na avenida, a “cervejada” estava garantida e quem sabe, depois da “vitória” da Embaixada, poderia rolar até um “extra” pra turma poder beber mais

A única vez.

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O universo cultural de um balcão de bar é incomensurável. Dentro de uma mesma proporção, transcende também um lado histórico de incalculável valor. Não há o que pague por certos momentos e por alguns companheiros que se acotovelam junto da gente neste espaço. Meu amigo Chico Lorena, profundo conhecedor e apreciador dos Beatles, dias desses tirou do baú de sua vasta memória um acontecimento que deve constar nos autos desse quinzenal pelo valor histórico envolvido numa época de repressão. Eu e o Chico não podemos nos encontrar que automaticamente “cantarolamos” uma canção dos Beatles antes mesmo da conversa rolar. Nesse dia, na Toca do Tatu, fomos surpreendidos pelos “discos de vinil” que o Tatu tem em seu bar e que vez ou outra são tocados na velha vitrola. O Chico através disso começou a recordar do tempo em que trabalhava na Rádio Aparecida em 1967, época auge da carreira dos “quatro garotos de Liverpool”. Todo dia, várias vezes ao dia, o Chico Lorena, que comandava a programação musi

Negócio da China.

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Há quem diga que ter comércio em Aparecida é ter uma mina de ouro. Mas é preciso trabalhar muito para que a eterna crise brasileira não venha castrar sonhos ou expectativas. Além do mais, muitas vezes é preciso que cada final de semana n’Aparecida do Norte venham se ajoelhar aos pés da Santa duzentas mil pessoas. Só assim parece que o papo mercantilista do domingo á tarde poderá ser mais tranqüilo, sem rodinhas na avenida “reclamando” desvairadamente do movimento. Ninguém vê que “é muita gente vendendo a mesma coisa em vários pontos na cidade”. Nem se o Lula tivesse dez dedos a coisa poderia melhorar. No início do ano o movimento não é lá essas coisas. Ainda mais quando o carnaval é logo no inicio de fevereiro, trazendo a temível quaresma. Mas sempre tem algum comerciante que se dá bem. Com criatividade e novidades acabam indo embora a cada domingo com pelo menos algum para pagar as contas. Às vezes quem sai perdendo mais são os donos de fábricas de quintal que fornecem as mercadorias

“Bons de papo”.

Uma boa conversa muitas vezes é fundamental para se resolver uma situação. Em Aparecida, desde que o comercio religioso se desenvolveu após o encontro da imagem da Santa no Rio Paraíba, todos que dependem disso para ganhar o sustento da família ficam conhecidos como os “reis da lábia”. As transações no comercio da cidade têm numa boa conversa com o romeiro uma ação imprescindível para se concretizar a venda de qualquer mercadoria ou prestação de algum serviço. A disputa pelo “cliente” vai depender muito de quem for melhor na conversa, já que a concorrência é muito grande devido à numerosa quantidade de ambulantes e lojistas na cidade. É fundamental ter objetividade e ser um tanto sucinto, pois o fluxo de pessoas é grande. A idéia é “laçar” o maior numero possível de freguês em espaços curtos de tempo. Além do comercio estabelecido e do ambulante existem ainda os eternos “vendedores de fitinhas” e os “agenciadores” de restaurantes que, de uma forma peculiar e impressionante, acabam conv

Tempos de Mordaça.

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1979, ano em que eu entrei para a escola e me inseri pela primeira vez no mundo mágico das palavras. “Escola Estadual de Primeiro Grau Prefeito Solon Pereira”, era a inscrição que eu carregava cheio de orgulho no bolso do “guarda-pó” impecavelmente branco. Tempo em que se carregava o caderno, o lápis e a borracha num daqueles saquinhos de arroz e mesmo assim se tinha certa vaidade por isso. Tempo dos ensinamentos da professora Dona Zilda flutuando entre as páginas da cartilha “caminho suave”. Pelas ruas ainda eram ouvidas algumas palavras de ordem devido aos restos de ditadura que iam aos poucos se enfraquecendo. Os telejornais passavam a retratar com mais coragem as manifestações á favor da anistia que decretaria o fim do exílio de muitos brasileiros mesmo tendo alguns optado pelo “exílio voluntário” para se promover. A liberdade de expressão parecia finalmente emergir de um profundo abismo repressivo depois de muito tempo. O esgotamento do regime militar já sentia o peso de manifesta

E tudo foi ficando pra trás...

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Dos pilares no incêndio, somente um não veio ao chão. Teve força, foi valente, criou calos em sua mão. Teve fé e sutileza. A esperteza de quem ama. Sua força principia, o seu nome Zé Donâna. A morte inesperada do meu amigo e vizinho Zé Donâna, minhas mais profundas inquietudes não vai deixar passar em branco. Nem tem como. Mas eu não quero intensificar este momento triste de agora. Quero relembrar o Zé Donâna da forma mais plena de como eu o via: um provinciano nato. Bairrista de brigar até com a própria sombra se preciso. “Encrenqueiro” que não tinha medo de nada. Era ele que subia a Rua Floriano Peixoto cantando. Era ele que entre um gole e outro, entoava sambas da antiga. O Zé dono de uma voz forte. O Zé Donâna das serestas no Bar da Zizi e do Bar do Seu Zé ali na Vicente Pasin. O Zé por muitos incompreendido. De outros tempos, quero falar de um Zé que junto de seus irmãos Jabuca e Tio, formaram um trio que dava show no Campo da Santa defendendo as cores “do Santa Rita”

“Heart and Soul”, homenagem ao Nicolau Samahá.

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Mesmo mais de trinta anos após sua morte, sempre ouvimos falar de que “Elvis não morreu”. Contudo, Elvis é ainda “o morto que mais vende discos em todo mundo” até hoje. O branco que tinha voz de negro. Elvis deixou este plano no dia 16 de agosto de 1977. Quando criança, todo dia eu subia à Praça da Igreja Velha pra levar almoço pro meu irmão Roberto Dias que trabalhava no Foto JK. Subia distraído e ficava encantado com os brinquedos dependurados nas portas das muitas lojas que supriam o caminho que levava até à praça. Mas era uma loja em especial que me fazia chegar atrasado ao meu destino: a Loja do Nicolau Samahá. O dia inteiro o ele ficava tocando na vitrola as músicas inesquecíveis do Elvis Presley que me deixavam encantado. Fora isso, as paredes de sua loja eram forradas com pôsteres gigantes do Rei do Rock por todos os cantos. Ele também se fazia parecer muito com o ídolo: Alto, cabelos com topete e costeletas enormes. Camisas chamativas e de golas altas. Parecia o próprio Rei do

A travessia Alvinegra.

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Eu estava lá. Fui ao Pacaembu em novembro de 2007 assistir a Corinthians e Vasco da Gama no jogo em que o “time do povo” perdeu a chance de escapar da série B do Brasileirão. Era só ganhar por misero “um a zero”. Mas não houve jeito. Foi o inverso, e o time decepcionou um Pacaembu lotado, com mais de 35 mil corinthianos que se esgoelaram nas arquibancadas durante 90 minutos. E eu era um deles. Lá na capital eu percebi realmente que São Jorge não joga bola. O negócio de São Jorge é matar dragão. E nem o time joga mais aquele futebol de raça e de amor à camisa como antigamente. Quem decide não é santo ou Oxalá. Nem Cristo ou Orixá. Quem decide é o acaso da bola na rede aproveitado com competência e treinamento. Também vi por lá que a PM não dá moleza. Ela “deita a borracha” sem dó. Foi assim quando a gente já estava nas imediações do estádio. Eu mesmo tive que dar umas boas corridas da policia pra não levar as minhas. Antes do fim da partida, quando percebi a “viola em cacos”, fui s

Essa tal “independência”.

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Nos meus áureos tempos na Escola Solon Pereira o “sete de setembro” caía sempre no dia 7 de setembro. A gente ficava algumas semanas ensaiando na quadra da nossa escola pra fazer bonito na Avenida Monumental onde o desfile do Dia da Independência acontecia. Nossa escola era modesta. Havia poucos e velhos instrumentos que na semana da pátria o saudoso Seu Machado ia dando um lustre com “Kaol” pra ficar mais bonito. Deles, a turma se desdobrava, e tirava um som que compunha o ritmo cadenciado da nossa marcha. Num contexto e mais ainda pela emoção patriota do instante, tudo até que ficava harmonioso. Mas era bem diferente de outras escolas que tinham fanfarras uniformizadas e brilhantes, tocando instrumentos luzentes por si só e que faziam o coração disparar a cada batida compassada. A mais marcante foi sem duvida alguma a Banda Marcial do Colégio La Salle. Não tinha quem não se arrepiasse quando ela passava impoluta pelas ruas da cidade com seu uniforme vermelho, azul e branco. Todo garo