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A história definitiva

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  Oito anos de pesquisas. Esse foi o tempo que eu levei para conseguir reunir num livro a história definitiva sobre as ruas de Aparecida e seus personagens. Tempo que foi preciso me embrenhar no esquecimento de papéis amarelados e de fotografias empoeiradas. Relembrar e resgatar histórias e pessoas quase perdidas. Um livro que permitirá o encontro de traços de uma cidade em construção e de pessoas que trabalharam no intuito de buscar o progresso do lugar. Para tanto, foi preciso também ir de encontro ao passado. Vasculhar cada sepultura dos cemitérios de Aparecida e decifrar cada lápide apagada. Ali, naquele vasto esquecimento, poderia estar uma informação muito importante. O nome de alguém que, na luminosidade de sua época, foi capaz de empreender, de ajudar, trabalhar e de construir o que a cidade é hoje.  Nas alamedas desses campos santos, foi preciso driblar a saudade e matar escorpiões de ruínas esquecidas. Assim foi possível reencontrar vários vultos que agora estarão também et

Recolhimento

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A humanidade, até então toda garbosa e cheia de si, resolveu que, diante dos medos e incertezas atuais, seria uma boa alternativa se reaproximar de Deus. Além dessa pandemia, Deus conseguiu dar provas de sua existência, embora muitos ainda não acreditem Nele. As ruas de Aparecida, estranhamente vazias, traçam um outro trajeto. Cancelou-se missas no Santuário Nacional e eventos diversos. Fecharam a feira da Monumental e até mesmo a grandiosa festa de São Benedito, naquela que seria sua centésima décima primeira edição, foi, da forma mais que sensata, cancelada. É realmente uma luta desigual contra um inimigo invisível. Tempo estranho e de dúvidas. Tempo de recolhimento onde Deus propôs um momento importante para se valorizar um bom convívio, especificamente entre as famílias. Época de uma infinidade de notícias falsas que eu particularmente evito compartilhar. Pior que a falta de informação é a informação falsa. Isso sem contar a convivência com pessoas irresponsáveis que não c

Pode escolher Senhor!

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Lembro muito bem, em meados de 1987, quando meu pai me acordou cedo num dia de sábado e me ordenou: "hoje você começa a trabalhar na loja do Antônio Barreto!" Era o meu primeiro emprego na vida, embora nas minhas reminiscências, há uma passagem em que eu, com meus 10 anos de idade, me vejo trabalhando na casa de uma vizinha nossa fazendo imagens de gesso do Divino Espírito Santo, decorados com ”brocal”. Mas foi na loja do Toninho Barreto que eu aprendi a  negociata do mundo mercantilista d'Aparecida. Antes do advento das coisas do Paraguai, nossa gente foi capaz de inventar e criar peças que dominaram o comércio. Como se esquecer de Dona Cida Murade e seu caderno anotando os pedidos das bailarinas de gesso que ela fabricava? As bailarinas de cores múltiplas eram bem aceitas entre crianças e adultos, o que fazia o Barreto fazer pedido toda semana. As capelas de vidro e madeira do Seu Alfredo. Mercadoria clássica, que dava um efeito maravilhoso nas pratelei

A construção da nossa identidade cultural

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Antiga Rua do Pinhão - Atual Rua 1º de maio - Década de 1940 As ruas de Aparecida escondem muitos mistérios. Foi assim que em 1996 a Professora Zilda Ribeiro resgatou, de alguns informantes, relatos, causos e histórias no seu livro " Braseiros e causos da Capella " que ajudaram a construir e a manter um rico cotidiano dos lugares e do povo daqui. Percorrendo as suas páginas, consegui destacar algumas citações que eternizaram alguns logradouros de Aparecida, contribuindo na preservação da memória popular de nossa cidade com uma linguagem simples e original: Bairro dos Maias, atual Rua Antônio Bittencourt da Costa: ... “Purquê essa rua não era rua ainda, era uma chácara, a Chácara dos Moraes”... ... “Muita gente dessa rua, gente mais antiga, conta que lá pra cima, devido os iscravo, parecia muita coisa... O dono desse morro foi um tar de Seu Maia, fazendeiro forte”... ... “Ele tinha muito iscravo e dizem que eles vórta de veiz im quando. Isso aqui era tudo c

Novos personagens na nossa nomenclatura urbana

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É para pensar: - Não existe nada mais solitário que uma placa de rua. Elas fazem parte do nosso dia a dia, mas quase ninguém mais nota sua presença. Alguém, vindo de fora, ainda é capaz de olhar para uma placa de rua por aí para simplesmente se situar. Mas além disso, existe ainda um descaso. Hoje a praticidade do GPS confisca a curiosidade de olhar para uma placa de rua. No muito, pergunta-se a algum transeunte "aqui é a rua tal?" E se confirma aquilo que o tal do GPS mostrou. Mas a placa ainda é a identidade da rua, o seu documento. Ela se porta sorrateira entre o cotidiano, driblando silenciosamente a ação do tempo e do homem. E o ser humano há muito tempo conseguiu perceber as vantagens que existem em aplicar um determinado nome aos locais por onde circula, assim ele pôde obter referências seguras para sua localização e se orientar em determinado espaço. E surge então as denominações próprias nos aglomerados urbanos. Paralelo a isso, estende-se a nomencl

Tempo de oração

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De uma forma bem emocionante, a saudosa Sra. Helena Lélis relata em seu livro "Vivências - Sob o azul de Aparecida", de 2002, a vez em que enviou uma carta ao Presidente Marechal Castelo Branco, onde lhe contava que, por ordem de S. Eminência o Cardeal Mota, era rezado todas as noites na Basílica Velha, um terço por intenção do Presidente da República, que também era transmitido pela Rádio Aparecida. Assim, o Presidente recebia diariamente as orações dos brasileiros em todos os quadrantes da nação. Castelo Branco foi o primeiro Presidente Militar depois de deflagrado o golpe de 1964. Naquela época, bem parecida com essa de agora, a democracia colocava-se sob um maciço ataque onde houve uma grave cassação de direitos. O Cardeal Mota então achou necessário que, pelas ondas da Rádio Aparecida, o povo brasileiro, em meio a repressão, ainda fosse capaz de rezar ao chefe da nação. Vivemos um tempo de incertezas, onde a intolerância se espalha na velocidade da luz. As

Conto: Os milagres da Grande Guerra - 2º Colocado no XXIX Concurso de Contos da Biblioteca Municipal de Aparecida 2018

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                        Primeiro Sargento Benedito Barreto Filho Quem poderia imaginar que o embarque do Monsenhor Feney, da cidade de Paraibuna, mudaria   para sempre o destino de um jovem soldado, cuja família, se reunia todas as tardes ao redor do velho rádio capela para, depois do Angelus , saber as notícias da guerra? A atenção, sem dúvida, era para o boletim médico do combate na Itália que era lido, logo em seguida das notícias, por uma enfermeira.  Quem poderia imaginar que um dia o caminho de tantas pessoas envolvidas podia se cruzar? O bonde, enfim, descia a Rua Barão do Rio Branco, vindo um pouco atrasado da Praça Nossa Senhora Aparecida. O mensageiro saltou dele apressado e apenas cumprimentou a jovem Conceição que da janela perguntava: - Nenhuma carta para nossa família? - Infelizmente não senhorita... Ela sabia que, em tempos de guerra, as correspondências dos soldados que lutavam na Itália eram severamente censuradas por razões de segurança. Mas